sábado, 19 de fevereiro de 2011

De grávida a mãe - O parto, a icterícia e a alta médica

E um dia a gente acorda grávida e dorme mãe. Comigo foi assim...
Tem gente que só dorme mãe no dia seguinte, porque o parto vira a noite ou sei lá... não dormiu mesmo. Mas comigo durou uns dias até a chegada do Diogo. Na quarta, as contrações de treinamento passaram a ser doloridas e frequentes.

Na quinta, a frequência aumentou. Eram 6 em uma hora. Consulta no PS da maternidade, um dedo de dilatação, pressão levemente aumentada - a GO de plantão ligou pra minha médica, que pediu para eu voltar ao consultório dela no dia seguinte, ou ligar pra ela e ir para a maternidade caso as contrações aumentassem. Aumentaram, mas não era nada demais, dava para esperar. Já contei que sou resistente a dor? Pois é, eu sou. Tava doendo pra caramba, mal dava pra respirar durante as contrações, mas eu aguentava bem. Quinta de tarde fui ver um médico que foi indicado por uma enfermeira amiga. "Senti a cabeça dele!!!", comemorou o Dr.

E eu, feliz, fui receber orientações da médica espiritual que é guia da minha tia. "Não passa de sexta".

Sexta de manhã, lá fomos marido e eu na minha médica. Depois de ouvir o coração dele, que estava normal, e de fazer o toque, ela ligou o foco (aquela luz forte pra caracas) e colocou o espéculo (mais conhecido como bico de pato) para olhar o líquido amniótico, já que apesar da dilatação e das contrações o Diogo parecia alto demais. O líquido estava amarelando, o que poderia significar que o cordão estava enrolado no pescoço, dificultando a descida, ou que ele teria feito cocô. Ambos os casos, indicativos de cesárea, segundo ela. Se tinha que ser, que fosse.

E eu, que sonhava com um parto natural, sem anestesia, caminhando e entrando no banho, tive de aceitar o parto cirúrgico. Ela ligou na maternidade que escolhemos: 10 cesáreas marcadas para o dia, vários bebês já nascidos e um elevador (só tem um na maternidade) quebrado. A maca não teria como subir para os apartamentos. Logo, ficamos com a segunda opção.

Viemos em casa a fim de pegar roupas e documentos. Coloquei o bebê conforto no carro, peguei mala, máquinas fotográficas e pilhas extras. Separei as lembrancinhas, o livro e minha mãe veio para seguir conosco.

Tiramos nossa única foto juntas (pois é... a gravidez passou todinha e ela não tinha foto com a barriga) e ela fez uma foto da barriga circulada pela fita métrica. 117cm. Coitada da minha mãe, nem roupa tinha. O plano era ela ficar e deixar a casa em ordem. Mas lá fomos os 3, para voltar 4.

Eu, morrendo de fome e sede, mas não podia comer nem beber água por causa da cirurgia... vontade de fazer o número 2, mas não saía... tudo por causa do nervoso.

Contratamos um fotógrafo para registrar tudo no parto, já que não pode entrar com câmera no Centro Cirúrgico. Melhor assim, porque o Daniel não teria conseguido tirar uma única fotografia, já que estava tão ansioso e nervoso quanto eu - ou até mais.

Internei 11h. Ao meu lado, na sala de pré-parto, uma outra moça em trabalho de parto parecia desconsolada. Puxei assunto. Lá vinha mais um menino, Carlos Eduardo. A bolsa das águas dela tinha rompido à 1h da madrugada, e ela estava desde então esperando as contrações ficarem fortes. Segundo a técnica de enfermagem que nos atendia, ela precisava ficar com o útero "liso", mesmo que fosse para seguir para uma cesárea. Nunca ouvi falar disso, mas quem sou eu?

Por volta de 12h30 fui levada para o Centro Obstétrico, e minha colega de Pré-Parto ficou lá, coitada. Não sei se eu tremia mais de frio por causa do ar condicionado, se era medo ou hipoglicemia. Ou um misto dos 3.

Minha GO veio me abraçar para eu ficar parada pra anestesia. E conversava para me distrair. Mas eu, morrendo de medo, senti dor na aplicação e a bendita da anestesia pegou tão rápido que minhas pernas foram içadas para cima da mesa. Em pânico com aquele aparato todo, minha pressão subiu. Não pude ver nada do nascimento do meu filho. Só meu marido do meu lado, me dando apoio e cuidando para ver se tudo estava indo bem.

Às 12h58 tiraram ele de dentro de mim. Quando ele chorou minha médica falou que ele estava bem, eu percebi que ele seria levado para fora da sala e mandei o pai ir junto, para se certificar de que o bebê certo seria identificado, para ver se estava tudo bem e para garantir que voltasse para eu ver seu rosto.

Quando me mostraram aquela carinha, era um bebê redondinho e cheio de gordura. Sujinho sujinho, e muito cabeludo. Ele não chorava, miava. E eu beijei sua bochechinha gordinha (igual à que eu havia visto na ultrassonografia 4D) e só falava para ele: Não chora, filho... mamãe tá aqui, viu? Não chora, meu amor.

Perguntei seu tamanho, peso e apgar: 48cm, 3,120Kg e Apgar 8/9. Eu não quis saber se era perfeito. Uma pergunta que, dizem os médicos, toda mãe faz. O que me importava era que ele estava ali, fosse ele um bebê de cinco braços ou o que todos consideram "normal". Era MEU FILHO, e eu o amaria independente de qualquer "defeito".

Não posso mentir. Não senti aquele amor desesperador tomar meu peito, como relatam. Mas minha pressão baixou no momento em que o vi. E eu atribuo essa sensação a uma coisa só: o amor que eu deveria sentir já estava dentro de mim muito antes de eu saber que seu coração batia dentro do meu ventre. Eu sempre amei meu filho antes mesmo de concebê-lo. E quando soube que estava grávida, aí sim, esse amor que a maioria sente na hora do parto veio à tona. Eu já o amava desesperadamente antes mesmo de tê-lo do lado de fora.

E foi por isso que eu sempre tive tanto medo do parto cirúrgico. Temia optar por um ou outro e prejudicar meu filho. Ou a mim. E sabia que se fosse por opção minha, e algo de errado acontecesse, eu me culparia para sempre. Levaram meu bebê embora, e o Daniel foi tirado do centro obstétrico.

Fiquei sozinha de novo, com meus medos e minhas lágrimas de desespero. Só Deus sabe o quanto eu detesto cirurgias, cortes e anestesias. Pra mim, aquele era o pior momento da minha vida: não ter controle de NADA no meu corpo, na minha vida.

Fiquei até umas 15h esperando a anestesia passar e ter alguém para me levar para meu apartamento. De qualquer forma, só poderia vê-lo novamente depois de 6 horas de nascido. Ainda bem que minha mãe estava lá. Ela ficou de olho nele enquanto meu amor cuidava de todo o resto. Fui para o quarto exausta - porque descansar em um corredor de pós-parto não é nada "descansante" - e dormi.

Uma hora antes do esperado, ele chegou. Lindo, enrolado em mil cobertores, de cabelo de lado. Pedi para minha mãe levantar a cama, me dar meu filho e fiquei com ele nos braços. Desfiz o penteado. Reclamei do tanto de roupa que colocaram nele. E o achei um pouco amarelinho, mesmo minha mãe dizendo que não.

Meia hora depois a enfermeira veio ajudar a colocá-lo para mamar. De primeira, Diogo abocanhou o peito e sugou com toda força. Senti o leite descer e ouvi suas engolidas cheias. Aí sim a felicidade tomou conta de mim. Se eu não tivesse entrado em trabalho de parto, não teria tido todo aquele leite na hora. Não poderia amamentar meu bebê por um tempo. E aquilo para mim era o essencial. E daquele momento em diante meu sono nunca mais foi o mesmo.

Sábado recebemos algumas visitas. Meus sogros, cunhado e a noiva - que se tornou, naquela noite, sua esposa - e a filhinha dela vieram cedinho.

À tarde, vieram minha comadre (mãe do meu afilhado lindo de morrer) e o Eric, amigos para todas as horas. Mais tarde, veio a Dayanne, que é minha irmãzinha do coração. De noite, veio minha prima (a caçula da geração) Carol, Cida e Su, minha segunda família.

Domingo, minha médica foi às 8h da manhã me dar alta. Disse que eu estava ótima e elogiou o pequeno. Logo em seguida o pediatra chegou e avisou que meu filho estava com icterícia e que teria de fazer um exame de sangue - e que o resultado sairia em 2 horas. Ele foi levado e pedi ao Daniel que fosse junto. Ele não pode entrar no berçário para acompanhar o bebê, e não soube que durante a coleta o pequeno havia se remexido e sujado a roupa de sangue.

Demoraram um tempão para trazê-lo. Umas horas depois, a enfermeira voltou e avisou que teria de levá-lo de novo, que teria de fazer um outro exame e que o pediatra viria para conversar comigo.

Ela demorou tanto para trazer o Diogo de volta, que meu marido ficou preocupado do lado de fora do berçário e perguntou o que estava acontecendo. Elas só falaram "tá tudo bem, o pediatra já fala com vocês!". Ele ficou bravo e correu para o quarto. Me encontrou em prantos.

O pediatra, super "delicado", me informou que talvez precisasse internar o Diogo para tomar banho de luz, porque a icterícia tinha dado limítrofe, e se o coombs direto desse positivo (sinal de que ele tinha anticorpos contra meu Rh), ia ficar por mais 2 dias lá. Eu pirei.

Eu chorava copiosamente, e rezava para todos os santos e deuses que eu conhecia.

Pedia ao Dr. Bezerra de Menezes que interviesse, Nossa Senhora do Bom Parto, Santa Sarah Kahli - padroeira das parturientes e das parteiras -, fiz promessa... Não podia imaginar ficar em casa seu meu filho.

O marido ligou, então, pra minha mãe... ela saiu correndo de casa e foi para lá me abraçar. Só uma mãe entende a outra, e não adiantava o colo do marido naquela hora.

Às 17h fomos liberados, com duas condições: 1 - banho de sol de manhã e de tarde; 2 - levar ao pediatra no mais tardar terça-feira.

Chegamos em casa e os padrinhos do Diogo o esperavam ansiosos na nossa porta. Contamos tudo o que aconteceu, e eles se embebedaram com a beleza do pequeno.

Segunda de manhã, banho de sol, marido na rua o dia todo para resolver coisas burocráticas (certidão de nascimento, autorização para consulta e exames...) e minha mãe ficou cuidando de nós. Pela primeira vez desde sexta eu dormi. Tão pesado que só acordei quando Diogão abriu o bocão e gritou!

Fomos à pediatra na terça, e ela manteve o banho de sol, pediu para voltarmos semanalmente no primeiro mês para acompanhar a icterícia e crescimento+ganho de peso do pequeno. Logo ele aumentou de peso, sarou da icterícia e foi ficando um homenzinho.

Hoje, ele é muito saudável, dorme de barriga pra baixo e se arrasta pelo berço, que fica colado na minha cama, e eu continuo não dormindo. Não porque ele chore ou porque mame demais. Muito pelo contrário. É porque ele dorme tão pesado que eu checo, a cada 15 minutos, se ele está respirando. Coisa de mãe...

E aí sabe aquele ditadinho clichê: "No fim, tudo acaba bem; se não acabou bem, é porque ainda não chegou ao fim"? Ele se encaixa direitinho aqui.

Seguem fotos de alguns momentos que cito nesse texto.


117cm de circunferência abdominal!!!

Minha mãe, na única foto com a barriga

É nessa hora que o sapo vira príncipe. Primeiro beijo.

Primeira mamada... as tetinhas michurucas ainda!!!

Finalmente levando meu pequenininho pra casa.

Um comentário:

  1. Raquel, teu filho é lindo!!!! E olha, apesar de ter tido parto normal, não foi o parto dos sonhos! Foi num lugar horrível, onde te tratam muito mal. Não me arrependo de nada, mas se na hora eu precisasse fazer uma cesária... também não teria problema!!! O importante que meu filho nasceu com saúde! E isso não tem preço!

    Tive problemas na primeira semana para amamentá-lo e sofri mais... mas passou e "deu tudo certo"

    um bjão

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